quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Vai Saudade - Heitor do Prazeres

terça-feira, 7 de junho de 2011

Bora pro Samba meu povo!

Salve o Samba puro!

“Samba,
És eterno,
Muitos o conheceram,
Outros o viram crescer,
Poucos o viram nascer,
Ninguém o verá morrer...”

Carlos Ferreira



















quinta-feira, 24 de março de 2011

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

"Se não houver tristeza, o samba não fica bonito"

Essa palavras são do Sr. Casemiro da Cuíca, no filme o mistério do Samba(2008), em uma cena linda onde ela sozinho canta o samba Tentação de sua própria autoria e tocando apenas a sua cuíca. Coisa linda!

Para mim, o samba é como se fosse uma bela árvore de doces frutos, onde as raízes desta árvore são os seus diferentes estilos de samba.

Dentre estas raízes, temos o samba enredo, o samba canção, o samba de terreiro, o samba de lamentação e etc.

E de todas estas “raízes”, particularmente as que mais me agradam são os sambas de terreiro e os sambas de lamentação.

E quando falo em samba de lamentação, me vem à cabeça nomes como Cartola, Nelson Cavaquinho e outros tantos mais. Porém, não consigo pensar neste estilo de samba e sem lembrar de JORGINHO PESSANHA.

Jorge Gomes Pessanha nasceu em 1931 e faleceu em 1981.

Filho de um dos fundadores da Escola de Samba Unidos da Capela no subúrbio de Parada de Lucas, no Rio de Janeiro. Já frenquentava as rodas de samba da escola aos 7 anos de idade.

Por volta de 1965 passou a integrar a ala de compositores do império Serrano, aonde anos mais tarde, chegou a ser o Diretor social do Império Serrano.

Em 1966, como integrante da Ala de Compositores do Império Serrano, classificou em 2º lugar um samba-enredo de sua autoria no concurso da escola. Neste mesmo ano, ao lado dos ritmistas Elizeu, Silvinho da Portela, fez parte da Delegação Brasileira que se apresentou no "Primeiro Festival de Arte Negra", em Dakar, no Senegal, em 1966.

A lista de parceiros de Jorginho Pessanha e repleta de sambistas da mais alta estirpe. Entre eles estão Walter Rosa (Portela), Mano Décio da Viola (império) e Oswaldo Vitalino de Oliveira, o Padeirinho (Mangueira), o que ressalta a sua importância nas rodas de samba dos morros e escolas cariocas.

Jorginho Pessanha se auto-denomivava o autêntico Jorginho do Império. Isso se devia ao fato de ele ter entendido que o outro Jorginho, o Jorge Antônio Carlos, filho do Mano Décio da Viola, havia se apropriado da alcunha de Jorginho do Império indevidamente.

Jorginho Pessanha morreu em 1981 praticamente no anonimato. Lançou somente dois discos, os dois na década de 70:

[1] Tô Muito na Minha - pela Continental
[2] Autêntico - Jorginho (Império) Pessanha - pela Infobrás

Entre seus sambas mais conhecidos, estão;

Favela; Que samba é esse;
Não chore amor; Mana cadê meu boi;
Eu não sou o que ela pensou; Tempo de paz;
Hora de chorar; Dia de Tristeza;

Estes dois últimos são dos que eu mais gosto, e mostram bem o que eu querer dizer quando falo em Samba de Lamentação e quando falo sobre a frase do Seu Casemiro no começo deste post.

Como não tenho vídeos do Jorginho, vou postar os áudios e suas respectivas letras.

Mas, para quem quiser ouvir mais, aqui vai um link para baixar os dois discos lá do blog prato e faca

Link1 – Tô Muito na Minha (1971)
Link2 – O Autêntico (1973)
________________________________________________________________

Hora de chorar (Mano Décio da Viola - Jorginho Pessanha)



Com licença, está na minha hora de chorar
Paciência, tenho que desabafar
Só quem perdeu seu grande amor
Sabe dar valor ao pranto meu
Quero ver chorar quem não sofreu,
Quero ver chorar quem não sofreu.

Deixa meu pranto rolar
Hoje eu quero sofrer
A recordação de um grande amor
Faço do pranto a dor da minha dor
Ôooo
Esse pranto faz parte do meu desamor
________________________________________________________________

Dia de tristeza (Norival Reis - Jorge Duarte) – Interpretado pro Jorginho



Hoje é dia de tristeza
Hoje é dia pra chorar
Hoje é dia que a saudade vem
Vem para me machucar

Tenho os olhos rasos d’água
Esta mágoa, eu já sei por quê
É que saudade já chegou
Chegou pela mão trouxe você
________________________________________________________________

Salve o Samba, Salve Jorginho Pessanha.

Até a próxima.

Fontes:
http://www.dicionariompb.com.br/jorginho-pessanha
http://memoriadampb.multiply.com/photos/album/367

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Uma Linguagem Diferente

Salve-Salve Malandragem,

Antes de Tudo, Quero desejar a todos um Feliz Ano Novo, cheio de paz, saúde, prosperidade e muito, mas muito samba mesmo.

Falo isso, porque a cada dia que passa, chego mais ainda a conclusão de que não existe nada melhor que o Samba.

Como dizia o Jornalista Roberto M. Moura ( 18/8/1947 - 26/10/2005)

“Não são os sambistas que formam a roda, A roda é que forma os Sambistas.”

Eu particularmente digo que o samba me ensina a viver.

Através do samba, você pode aprender como entrar e sair de qualquer lugar; Aprender como ter um “bom comportamento”; Aprender o que é certo e o que é errado; Enfim, aprender toda a “malandragem” da vida.

O Samba vem do cotidiano da periferia, O samba vem do Morro. Viver lá no Morro é tão singular que até a Linguagem é Diferente.

Alguns grandes sambistas até já retrataram esta particularidade em suas letras.

Hoje vou mostrar isto para você em três sambas que vou postar aqui.

O primeiro é o Samba - Linguagem do Morro, (composto por Padeirinho e Ferreira Santos) e que já foi interpretador por Beth Carvalho, João Nogueira, Jamelão, Chico Buarque dentre outros.

aqui a versão do João Nogueira;



Linguagem do Morro
(Padeirinho / Ferreira Santos)

Tudo lá no morro é diferente
Daquela gente não se pode duvidar
Começando pelo samba quente
Que até um inocente
Sabe o que é sambar
Outro fato muito importante
E também interessante
É a linguagem de lá
Baile lá no morro é fandango
Nome de carro é carango
Discussão é bafafá
Briga de uns e outros
Dizem que é burburim
Velório no morro é gurufim
Erro lá no morro chamam de vacilação
Grupo do cachorro em dinheiro é um cão
Papagaio é rádio

Grinfa é mulher
Nome de otário é Zé Mané (2x)
________________________________________________________________

O segundo é o Samba – Linguajar do Morro, (composto por Noca da Portela e José da Cruz))

Nesta versão o próprio Noca interpreta o samba no Programa Ensaio;



Linguajar do morro
(Noca e Zé da Cruz)

Eu nasci no morro,
E no morro me criei,
Meu diploma de malandro,
Lá na colina tirei,
O linguajar do morro,
Nele todo estou por dentro,
Pra você bater papo no morro,
E preciso estar atento,

Carro se chama carango,
Otário é fariseu
Relógio chama-se bobo
Fechou quer dizer que fulano morreu
Mulher e tratada de mina
Dedo duro é suja boca
Cumprimento é como é que é
Entendeu quer dizer morô Zé
________________________________________________________________

E o terceiro é o Samba - A Gíria é Cultura do Povo (composto por Elias Alves Junior, Wagner Chapell) e interpretado por Bezerra da Silva.

Que, aliás, foi o interprete que mais utilizou o dialeto do morro em suas canções, até mesmo – como ele mesmo dizia - porque a maioria das suas gravações são dos “desconhecidos compositores” do morro.



A Gíria é a Cultura do Povo
(Elias Alves Junior, Wagner Chapell)

Toda hora tem gíria no asfalto e no morro
porque ela é a cultura do povo
Pisou na bola conversa fiada malandragem
Mala sem alça é o rodo, tá de sacanagem
Tá trincado é aquilo, se toca vacilão
Tá de bom tamanho, otário fanfarrão
Tremeu na base, coisa ruim não é mole não
Tá boiando de marola, é o terror alemão
Responsa catuca é o bonde, é cerol
Tô na bola corujão vão fechar seu paletó
“Toda hora tem gíria...
Se liga no papo, maluco, é o terror
Bota fé compadre, tá limpo, demorou
Sai voado, sente firmeza, tá tranquilo
Parei contigo, contexto, baranga, é aquilo
Tá ligado na fita, tá sarado
Deu bode, deu mole qualé, vacilou
Tô na área, tá de bob, tá bolado
Babou a parada, mulher de tromba, sujou
“Toda hora tem gíria...
Sangue bom tem conceito, malandro e o cara aí
Vê me erra boiola, boca de sirí
Pagou mico, fala sério, tô te filmando
É ruim hem! O bicho tá pegando
Não tem caô, papo reto, tá pegado
Tá no rango mané, tá aloprado
Caloteiro, carne de pescoço, “vagabau”
Tô legal de você sete-um, gbo, cara de pau
________________________________________________________________


É isto ai gente Bamba, por hoje é tudo isso.
Curtam o Samba sem moderação. Eu Recomendo.

Salve o Samba, Salve a Linguagem do Morro.

Até a próxima.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

"Encontrei Mano Alvaiade, Nosso Antigo Diretor de Harmonia"



Salve Salve Gente Bamba,

Hoje pretendo fazer um post sobre mais um grande sambista da “Minha Portela Querida”.

Oswaldo dos Santos, ou simplesmente como era conhecido, Alvaiade.

Alvaiade foi um dos grandes compositores da Portela, e fez parte da escola desde a época em que ela ainda se chamava “Vai como pode”.

Ele foi convidado a integrar a escola de samba por Paulo da Portela, de quem conquistou tanta simpatia que inclusive o representava algumas vezes a frente da Portela em suas ausências.

Alvaiade, foi chefe de conjunto na Portela, era ele quem organizava os ensaios de modo geral, era uma espécie de Diretor de Harmonia. Ele também foi um dos poucos sambistas de Oswaldo Cruz que conseguiu uma brecha na era do rádio, e foi gravado por nomes como Ataulfo Alves, Linda Batista, Ciro Monteiro, Odete Amaral, dentre outros.

Como são raras as imagens desta época, postarei um trecho retirado do vídeo VELHA GUARDA DA PORTELA 1975, onde Alvaiade aparece apresentando alguns de seus sambas.

Postarei também três áudios onde os sambas, Concurso pra Enfarte (Alvaiade) e O Mundo é Assim (Alvaiade) são interpretados pelo próprio Alvaiade e os sambas Embrulho que eu carrego (Alvaiade/Djalma Mafra) e Vida de Fidalga (Alvaiade/Chico Santana) são interpretados por Cristina Buarque e Terreiro Grande.

E ainda, abaixo do vídeo e dos áudios, tem uma entrevista cedida por Alvaiade e publicada no encarte do disco "História das Escolas de Samba vol.2".

Neste registro, o compositor fala de sua relação com a Portela, com os compositores, do grande Paulo da Portela e conta outros casos maravilhosos, como por exemplo, o deste trecho aqui abaixo;

“Me lembro de outro também que fiz baseado nos vendedores que corriam os trens vendendo tudo. Bala, Jornal, etc. Conhecia até alguns pelo nome, como o Cheiroso. Era assim:”

"Baleiro Balas a dez, um tostão
Queijeiro Queijo de Minas é bom
Jornaleiro
Meu Deus do Céu que moçada
Ele vem gritando
Diário da noite Olha o Globo e Vanguarda
Chegou o Cheiroso
Tem a descrição encerrada"


Por hoje é só amigos, aproveitem o material sem moderação.

Salve o Samba, Salve a Portela, Salve Alvaiade.

Até a próxima. ___________________________________________________________________________Alvaiade - Embrulho que Carrego e O Mundo é assim


___________________________________________________________________________AUDIOS

concurso para enfarte:



o mundo é assim:



embrulho que eu carrego - vida de fidalga:


___________________________________________________________________________ENTREVISTA:

Desde quando você está metido em samba?
Alvaiade: Desde 1928. Naquela época, o Paulo da Portela morava na Estrada da Portela, 276, que era um correr de casas que tinha o apelido de barra preta. Eu morava na Rua B, em Oswaldo Cruz, e tinha um bloco carnavalesco por lá. E o Paulo me convidou para a Portela.

O seu bloco era grande?
Alvaiade: Pequeno. Éramos eu, o falecido Brasileiro, o Zé Cachacinha, o Alvarenga, um grupo pequeno. O Alvarenga já pertencia à Portela antes de mim.

Como é o seu nome, Alvaiade?
Alvaiade: Oswaldo dos Santos. Nasci a 21 de novembro de 1913, aqui na Estrada da Portela.

Quando você entrou pra Portela já era compositor?
Alvaiade: Não, eu acompanhava o pessoal, fazia um centro no cavaquinho, cantava, etc. Depois é que eu comecei a fazer música.

A primeira vez que você saiu na Portela já era pra desfilar na Praça Onze?
Alvaiade: Não. A primeira vez foi para participar de uma roda de samba em Bento Ribeiro, na casa do Paulo de Bento Ribeiro. Aliás, a razão do Paulo da Portela ganhar esse nome foi por causa do Paulo de Bento Ribeiro, que também era do samba.

Como é que o Paulo da Portela tratava os mais novos como você?
Alvaiade: O Paulo era uma figura humana fora de série. E muito observador. Eu era muito garoto naquela época e ele chegava até a me entregar certas responsabilidades dentro da escola, como a de substituí-lo de vez em quando, na sua ausência. Quando ele ia pra São Paulo, mais tarde, com o Cartola e o Heitor dos Prazeres, quem preparava a escola era eu, como chefe interino, além do Ventura e o Alcides, que eram os diretores de harmonia. Quando ele chegava era só pra comandar a escola.

Ele chegou até a apontar você como substituto dele, não foi? Alvaiade: Foi. Ele sempre dizia aos visitantes que iam à Portela: “Esse é o pequeno que me substitui”. Aquilo me dava muito entusiasmo. Minha prova de fogo foi em 1934. Foi uma festa na Portela e recebemos a visita de uns doutores, coisa muito rara na época numa escola de samba. E fui eu quem recebeu o pessoal. Depois foi num batismo de uma escola de samba lá no Botija. Fui incluído na delegação da Portela, mas como um simples integrante. Quando saltamos do bonde, o Cláudio de Quintino me falou: “Olha alvaiade, o Paulo disse pra você fazer a cerimônia”. Aí, tomei as medidas. Formei a rapaziada, tiramos um samba quando chegamos, houve aquela troca de gentilezas, aquela coisa toda. Eu sei que fui bem, pois o Cláudio de Quintino me deu os parabéns depois.

O Paulo era um boa praça, mas era muito exigente também, não é isso? Principalmente com a roupa.
Alvaiade: É verdade. Ninguém podia se apresentar com chinelo charlote porque o Paulo não gostava. O pessoal do Estácio, por exemplo – e isso não é querer falar mal, mas falar a verdade – apresentava-se muito bem, com ternos caríssimos. Mas de chinelo charlote e lenço no pescoço. O pessoal da Portela não. A gente tinha que andar de sapato e gravata. O Paulo dizia assim: “Quero todo mundo com o pé ocupado e pescoço também”. Quer dizer: sapato e gravata. Por sorte, a nossa rapaziada quase não bebia. A gente era diferente das outras escolas

Como é que foi a briga do Paulo com a Portela?
Alvaiade: Nessa época – foi no carnaval de 1940 – eu estava chefiando a escola no lugar do Paulo, que estava em São Paulo, com o Cartola e o Heitor dos Prazeres. Ele chegou na hora em que a escola estava formada pra desfilar na Praça Onze e queria que os companheiros dele desfilassem também. Mas o problema é que eles estavam com uma fantasia preta e branca e o pessoal da diretoria achou que não era direito. Se o Paulo quisesse desfilar, tudo bem. Mas seus companheiros é que não podiam.

Toda a diretoria pensava assim?
Alvaiade: Toda. Ainda dissemos pra ele que os companheiros dele podiam entrar na escola, mas só depois que passassem pela comissão julgadora. Chamamos o Manoel Bam Bam Bam e ele repetiu para o Paulo a mesma coisa. Aí o Paulo disse: “Se eles não podem entrar, eu também não entro”. O Manoel Bam Bam Bam levantou a corda – naquela época as escolas desfilavam com corda - e falou: “Então você não desfila, pode sair”. O Paulo saiu e nunca mais desfilou pela Portela.

Mas ele nem visitava a escola?
Alvaiade: Oito dias depois, a gente estava comemorando a vitória da Portela lá na sede. E o Paulo apareceu com o Pessoal da Mangueira. Me lembro que ele estava com o Cartola e o Chico Porrão. Ele estava esquisito, de um jeito que eu nunca tinha visto assim. Acho que tinha tomado umas e outras, que ele não era de beber. Eu sei que chegou na Portela, trepou na mesa e começou a fazer um discurso: “Vocês crianças, vocês ursos”, não sei o que, falando coisas que não eram do feitio dele. Até os parentes dele ficaram revoltados com a situação. Eu ainda pedi a palavra tentando contornar o problema, mas havia uma grande revolta. Saímos Dalí e fomos para uma área, onde é hoje o botequim do Nozinho, irmão do Natal, e o Paulo puxou um samba da Mangueira: “Vou partir sem briga” e não sei o que mais. Eu aí, puxei um samba assim:

“Seja feliz com seu novo amor
Porque eu vou procurar o meu bem estar
Pode arranjar quem você quiser
Só peço pra de mim esquecer, mulher”


É um samba do Mijinha, o autor de “Sentimento”, que o Paulinho da Viola gravou. Mas o ambiente não estava bom não. E o pessoal da Mangueira percebeu isso. Me lembro até que o Chico Porrão falou assim pra mim: “Alvaiade, eu não tenho um alfinete pra me defender”. Eu falei pra ele assim: “Não tem nada não, aqui você está como se estivesse em sua própria casa”. Mandei um componente da Portela ir até Madureira buscar um carro, mas naquela altura tinha gente afim de pegar alguém, não sei se o Paulo ou o pessoal da Mangueira. Quando o carro chegou, botei a rapaziada lá dentro e fui em pé, no estribo, até lá fora protegendo eles. Na volta, veio uma porção de gente em cima de mim me espinafrar porque eu protegi o pessoal. O Paulo saiu e a Portela passou sete anos ganhando os desfiles na Praça Onze. Ele nunca se esqueceu da Portela. Muitas vezes, a gente ficava conversando em cima da ponte de Oswaldo Cruz e ele perguntando como é que ia o negócio, aquelas coisas. Ele estava na escola de samba Lira do Amor, mas não esquecia a nossa escola. No ano que ele ia voltar, morreu.

Você chamava o Paulo de você ou de senhor?
Alvaiade: Você mesmo. Era o Mano Paulo.

Havia muita gente na Portela no início da escola?
Alvaiade: Não. Houve um ano - não sei se 1931 ou 32, não me lembro - que aconteceu um negócio que nunca mais esqueci. Nós íamos descer pra desfilar na Praça Onze e fomos pegar o trem na estação de Dona Clara. O Rufino, que era o tesoureiro, pagou 90 passagens. E se queixou: “Meu Deus, isso não é mais uma escola de samba, é um rancho. Nunca vi tanta gente numa escola de samba”.

É verdade que no início eram homens que desfilavam de baianas?
Alvaiade: É. Nós não tínhamos baianas no início. Quem saía de baiana era o Claudionor, o Boaventura, o Manoel Bam Bam Bam, o Antônio Mestre Sala e outros. Era um grupo de homens que saía de baiana.

Não tinha mulher na Portela?
Alvaiade: Tinha. Não saíam de baiana. Quando a gente ia, por exemplo, a uma batalha de confete, o próprio Paulo ia de casa em casa pedir consentimento às famílias para levar suas moças com a escola. Depois entregava todas elas em suas casas. Éramos uma família.

Mas havia aquele negócio de que sambista era sinônimo de marginal?
Alvaiade: Havia. Inclusive falavam isso da Portela, que é uma escola da Planície. Mas conosco não havia problema.

Você se lembra dos seus primeiros sambas para a Portela? Alvaiade: Mais ou menos, acho que era um assim:

“Meu amor
Não me maltrate assim
Meu bem
Não sei que mal eu fiz
Agora sei que me odeias
Mas algum dia
Ainda espero ser feliz”


Me lembro de outro também que fiz baseado nos vendedores que corriam os trens vendendo tudo. Bala, Jornal, etc. Conhecia até alguns pelo nome, como o Cheiroso. Era assim:

“Baleiro Balas a dez, um tostão
Queijeiro Queijo de Minas é bom
Jornaleiro
Meu Deus do Céu que moçada
Ele vem gritando
Diário da noite Olha o Globo e Vanguarda
Chegou o Cheiroso
Tem a descrição encerrada”


Além de dirigente da escola, o Manoel Bam Bam Bam também foi mestre sala, não é isso?
Alvaiade: Ele foi o primeiro mestre sala da escola. Foi mestre sala por 24 anos. A primeira porta bandeira foi a falecida Braulina.

Qual foi a primeira vez que a Portela desfilou na Praça Onze cantando um samba seu?
Alvaiade: Foi em 1934, mais ou menos.

“Eu só queria saber
Porque és tão fingida assim
Deves bem compreender
Ora meu bem
Eu só amo você
A mais ninguém”


Aí o pessoal fazia o improviso. Naquele tempo não havia segunda parte feita. Havia os versantes, como o João da Gente, que até foi apelidado de Gogó de Ouro. O Claudionor, o Ventura também eram grandes improvisadores e geralmente era o pessoal da direção de harmonia quem fazia isso. O Claudionor e o Ventura eram da Harmonia.

Você também foi diretor de harmonia?
Alvaiade: Eu fui chefe de conjunto quase vinte anos. E dentro dessa função eu fazia tudo. O chefe de conjunto era responsável pelos ensaios de um modo geral. Era uma espécie de diretor de harmonia. Tinha que ter noção de bateria, examinar vozes, isso tudo. Eu era o homem de sete instrumentos na Portela. Recebia visitas em nome da escola, visitava as co-irmãs, tudo isso eu fazia. E fazia discursos também.

O Paulo fazia discursos. Ele era bom orador?
Alvaiade: Puxa, ele tinha o dom da palavra. E era de uma gentileza de deixar todo mundo pasmado.

Naquele tempo que a Portela iniciava você já era um camarada conhecido no meio do samba?
Alvaiade: Bem, o que me fez mais conhecido foi o futebol. Aliás, foi no futebol que ganhei esse apelido de Alvaiade. Joguei no infantil da Portela, depois passei para o segundo quadro e acabei no primeiro. Em 1935 eu estava jogando no primeiro time da Associação Atlética Portuguesa. Em samba eu apareci mais por causa da minha função de organizador. Minha maior preocupação era lançar os novos compositores. Esses novos compositores são os velhos de hoje: o Manacéia, Walter Rosa, Candeia, Chico Santana e muitos outros.
Houve uma época que combinei com os compositores que cada um só podia lançar duas músicas por ano. Todo mundo cumpriu. Mas houve um ano que o Chico Santana encontrou comigo na padaria e me trouxe um problema. Ele já tinha apresentado os seus dois sambas, mas tinha um terceiro que não queria deixar de lado. Me cantou o samba e eu gostei. Fiquei em dúvida e acabei quebrando o protocolo. Afinal, ele podia morrer, ou eu, e o samba ficaria esquecido. Hoje o samba é considerado, oficialmente, o hino oficial da Portela.

“Portela Suas cores tem
Na bandeira do Brasil
E no céu também
Avante portelense
Para a vitória
Não vê que seu passado
É cheio de glória
Eu tenho saudade
Desperta, oh grande mocidade”


Nos primeiros tempos, onde era mesmo a sede da Portela?
Alvaiade: Ora, a sede. A sede? Bem, às vezes a Portela ensaiava na casa do Benício. No carnaval saia da casa do Caetano ou da casa do Rufino. Mais tarde é que alugamos uma casa na Estrada da Portela, onde é hoje o bar do Nozinho. Tinha uns 20 metros quadrados e era ali que a gente ensaiava.

E a famosa jaqueira da Portela?
Alvaiade: Era num terreiro na esquina da Estrada da Portela com a Rua Joaquim Teixeira. De fato, o pessoal ia pra ali, agora eu me lembro, ali onde é o bar do Nozinho tinha uma jaqueira sim.

Depois do Manoel Bam Bam Bam, quem ficou de mestre sala na Portela?
Alvaiade: O Antônio, que também ficou muito tempo. Aliás, tanto o Antônio quanto o Manoel já são falecidos. Depois dos dois, apareceram outros, mas não ficaram muito tempo não.

Fim.