sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Cada vez mais Adoniran.

Nem mesmo pessoas com nervos de aço, sem sangue nas veias e sem coração são capazes de passar incólumes pela voz rouca que conta, quase consolada, a terrível história da noiva atropelada 20 dias antes do casamento:

“- O chofér não teve culpa, Iracema/ Paciência.”

O mais brilhante compositor paulista de todos os tempos, Adoniran Barbosa - pobre e mal-letrado -, sabia ser mais denso que muito catedrático quando definia:

"pra escrever uma boa letra de samba, a gente tem que ser, em primeiro lugar, anarfabeto".

Como poucos, Adoniran foi gênio. Evidentemente filho de imigrantes italianos, o radioator João Rubinato na verdade não nasceu em São Paulo capital, mas sim em Valinhos, no interior do Estado.

Foi pra Sampa ver se conseguia de alguma forma seguir a carreira de ator que - de 1941 a 51 - foi o que lhe deu toda aquela base antropológico-botequinesca que seria desenvolvida em seus anos de compositor.

Bem antes de se tornar conhecido como compositor, Adoniran tinha nome como radioator - numa época em que o rádio tinha o controle absoluto da mídia nacional e a TV nem sonhava em se implantar no Brasil.
Em 1946 o cara já encarnava nada menos que 16 personagens em seus programas na Rádio Record.

Muitos dos personagens criados pelo ator João Rubinato seriam mais tarde os personagens das suas canções. Um deles, Adoniran Barbosa, acabaria inclusive por tomar conta da persona de seu criador.

A marca especial era aquele humor amargo, doído - o típico seria-trágico-se-não-fosse-cômico - encarnado em anti-heróis devorados pela cidade amada que crescia.

Adoniran nunca deixou de ser ouvido. Claro que teve momentos em que lembrou com saudade que:

“- o rádio que hoje toca iê-iê-iê o dia inteiro / tocava Saudosa Maloca.”

Mas não tinha nenhuma mágoa. Nenhuma mesmo:

“- eu gosto dos meninos desse tal de iê-iê-iê / porque com eles canta a voz do povo / E eu / que já fui uma brasa / se assoprarem posso acender de novo.”

Sua única mágoa nos tempos de velhice, era ter sido apartado de seu público. Cantava com sucesso para universitários e era adorado pela intelectualidade.

Mas justamente ele, que tinha sido povo como poucos, não passava mais pela grande mídia nem tocava nas rádios populares.

Quando, em novembro de 82, foi-se pro pagode lá de cima, por causa de uma parada cardíaca.

Adoniran Barbosa teve um enterro modesto. 500 pessoas amigas e nenhuma otoridade.

Bom, pelo menos isso: seu enterro só tinha gente respeitável.


Salve o samba, Salve Adoniran Barbosa.

Até a Próxima.



Fonte: (www.samba-choro.com.br/artistas/adoniranbarbosa)









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